Sobre Fábulas, por Talitha Bueno Motter – mestranda na linha de História e Crítica de Arte pelo PPGAV/UFRJ, editora e curadora da revista Arte ConTexto, atuando também como crítica de arte.
Na exposição “Fabulário”, pode-se ver um recorte das fábulas-pinturas de Osvaldo Carvalho. Nelas, a noção de contar histórias, advinda do título que as une, aparece impressa na bidimensionalidade das telas, é uma forma diferente de narrativa. Porém, talvez fosse melhor pensar nessas formulações, que se abrem em superfícies repletas de padrões coloridos, animais, objetos variados, crianças, palavras, como atos de constelar do artista, de estabelecer redes de conexões. Essas redes são instáveis, pois constituídas por peças flutuantes, que podem revelar significados diversos dependentes dos outros elementos que ali se agrupam e daquele alguém que lhes dirige o olhar. “Entendimentos” que se originam, muitas vezes, de forma ambivalente: por exemplo, ao se observar o quadro “Love me!”, a aproximação pode ser cativada pelo padrão de bolinhas coloridas ou por um palhaço malabarista de cadeiras vermelhas (tudo habitual?). Depois, começam a aparecer sinais de perigo, um símbolo de energia nuclear disfarçado, uma mensagem Danger. Do not cross. De que maneira tais formas coexistem?
A fisicalidade desses trabalhos esconde a referência virtual de seu universo constitutivo, que remete às buscas realizadas pelo artista na web. Uma palavra lançada em um buscador online acarreta, como coloca o artista, em “caminhos/saltos inesperados” em relação ao que se estava, inicialmente, procurando. Os inúmeros links que vão sendo sugeridos podem levar de “quarto de bebê” a “acidente de carro”. Tanto nesse ciberespaço rizomático, quanto nos trabalhos de Osvaldo Carvalho, as relações entre os elementos ali presentes podem parecer inusitadas. No entanto, é assim que se desvela o nosso modo de sentir, pensar, agir, em que muitas vezes queremos algo e acabamos fazendo outra coisa, amamos e desamamos ao mesmo tempo. Conforme Sérgio Milliet (1957), as fábulas possibilitariam explicar de forma agradável verdades que de outra maneira poderiam chocar. Assim, essas fábulas-pinturas poderiam lidar com nossos conflitos indissolúveis, com as respostas sempre inatingíveis.
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SERVIÇO:
Fabulário – Osvaldo Carvalho
Abertura: 12 de fevereiro
Visitação: 12 de fevereiro à 5 de abril
Quarta à Sexta: 16h às 19h – Sábados: 10h às 14h
Galeria de Arte Solar: Rua Saint Roman, nº 146